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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Ministério da Reconciliação: Divergencia (Artigo)


MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO: DIVERGÊNCIA 

Pr. Josué Mello Salgado

Escrevendo sobre demandas judiciais entre crentes em I Coríntios 6, o apóstolo Paulo afirma: “Na verdade, já é uma completa derrota para vós o terdes demandas uns contra os outros” (vs.7), ensinando assim que nós como igreja fomos chamados a viver em paz uns com os outros, em relacionamentos sadios, a enfrentar e solucionar biblicamente os conflitos, a ministrar reconciliação.

Contudo uma pergunta surge: será que toda reconciliação é da vontade de Deus? Será que toda a reconciliação é o melhor? Será que nós devemos ter paz com todas as pessoas? Absolutamente todas? Paulo escreve “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todas as pessoas” (Romanos 12.18). É possível então viver uma reconciliação plena no mundo, e até na igreja?

Se lembramos que Deus ordenou a separação entre a luz e as trevas, entre as obras da luz e as obras das trevas e que Deus ordenou a inimizade entre a serpente e a mulher e entre a descendência da serpente e a descendência da mulher (Gênesis 3.15), então poderemos de pronto enunciar que nem toda a reconciliação, nem toda paz interpessoal é desejável, é possível, e se encaixa nos propósitos divinos.

O enlace (união por meio de sentimentos ou opiniões; harmonização, ligação, combinação, concórdia) de Josafá (rei de Judá) e Acabe (rei de Israel) narrado em II Crônicas 18.1-34 fez nascer a paz entre ambos (I Reis 22.44) e que deu lugar a uma aliança de guerra contra os Sírios em Ramote-Gileade (II Crônicas 18.3), mostrou-se um laço para Josafá que para isso precisou abrir de princípios espirituais e quase morreu por ser confundido com Acabe (II Crônicas 18.31-32).

Josafá e Acabe seguiram caminhos diferentes. Josafá tinha nome e história de filho de Deus, era parte do povo de Deus, e procurava viver assim. Ser e andar como um filho de Deus era a regra em sua vida, falhar foi uma exceção. Acabe também tinha nome e história de filho de Deus, era parte do povo de Deus, mas não procurou viver assim. Ser e andar como um filho de Deus foi uma exceção em sua vida, falhar era a regra. Um enlace entre esses dois perfis seria impensável, seria como juntar as obras da luz com as obras das trevas.

Os sinais de que o enlace de Jeosafá com Acabe se tornou um laço foram: a) Imitação - “Como tu és, serei eu” (II Crônicas 18.3) disse Josafá à Acabe. A paz de Josafá com Acabe deveria ser canal de mudança e transformação da vida de Acabe e não de imitação por parte de Josafá do perdido Acabe. Uma aliança, uma reconciliação e paz que nos leve a sacrificar padrões e valores bíblicos não é um enlace bem vindo, é um laço maldito;

b) Dilema Espiritual - Josafá viveu o dilema de agradar o amigo Acabe ou agradar a Deus: “Disse mais Josafá ao rei de Israel: Consulta, hoje, peço-te, a palavra do Senhor” (II Crônicas 18.4). “Disse, porém, Josafá: Não há ainda aqui profeta algum do Senhor, para que o consultemos?” (II Crônicas 18.6). Uma aliança, uma reconciliação e paz que nos leve a experimentar dilemas entre fidelidade a Deus e fidelidade a um amigo não é um enlace bem vindo, é um laço maldito;

c) Falsa Paz - Acabe não era amigo sincero, pois que pretendeu expor o amigo na guerra que não era dele: “E disse o rei de Israel a Jeosafá: Eu me disfarçarei e entrarei na peleja; tu, porém, veste os teus trajes reais. Disfarçou-se, pois, o rei de Israel, e eles entraram na peleja” (II Crônicas 18.29). Uma aliança, uma reconciliação e paz que nos leve experimentar uma falsa paz não é um enlace bem vindo, é um laço maldito;

d) Risco de Confusão – Josafá correu o risco de ser confundido no processo disciplinar divino – “Sucedeu, pois, que, vendo os capitães dos carros a Josafá, disseram: Este é o rei de Israel, e o cercaram para pelejarem; porém Josafá clamou, e o Senhor o ajudou. E Deus os desviou dele” (II Crônicas 18.3). Deus enviara muitos Profetas com a Palavra do Senhor a Acabe, e este só teve um momento breve de humilhação na presença de Deus, por isso Deus determinara a disciplina (conf. a Parábola de Micaías em II Crônicas 18.19). Por se enlaçar com Acabe, Josafá quase foi confundido no processo disciplinar divino. O alvo da disciplina de Deus pode até se disfarçar (até como anjo de luz), mas Deus realizará seus propósitos disciplinares usando até bala (ou melhor flecha) perdida, como a que matou Acabe (II Crônicas 18.33-34)! Pode se enganar os amigos, mas não se pode enganar a Deus! Uma aliança, uma reconciliação e paz que nos leve a ser confundidos com ímpios não é um enlace bem vindo, é um laço maldito.

Então para que um enlace não se torne um laço devemos:
a) Priorizar a Aliança com Deus – Em Efésios 6.6 o imperativo divino nos diz que não devemos servir à vista (exteriormente) para agradar aos homens, mas como servos de Cristo (doulos) devemos fazer de coração a vontade de Deus. Em I Coríntios 7.23 aprendemos que não devemos nos tornar escravos (doulos) de homens. Ao colocar em primeiro lugar a aliança, o enlace, com Acabe, Josafá colocou em segundo plano a aliança com Deus. Se para viver em paz e em aliança com alguém eu preciso abrir mão da minha aliança com Deus (Palavra de Deus, Igreja) significa que esse enlace se tornou um laço;

b) Ouvir a Palavra - Acabe vivia em desobediência à Palavra de Deus, ele não gostava de ouvir a Palavra através dos profetas, ele fechava os ouvidos à Palavra, ele se servia de “profetas” (e amigos) contratados para só dizerem o que ele queria ouvir, e não o que ele precisava ouvir, ele não consultava à Palavra, ou como no caso do profeta Micaías, ele denominava a Palavra dita pelo profeta e que tocava na sua ferida de “sermão carapuça”, ele odiava quem falava o que ele não queria ouvir (I Reis 22.8). A Elias ele chamava de “perturbador de Israel” e “inimigo meu”;

c) Rejeitar Alianças que Minimizem os Imperativos Absolutos Bíblicos e Morais que Deus exige -
conf. Gênesis 2.16-17. Depender primeiramente de Deus e só secundariamente de amigos. Em Lucas 16.1-9 Jesus conta a parábola do administrador infiel e que acusado de dissipar os bens do seu patrão e chamado a prestar contas para ser demitido, começa a chamar as pessoas que deviam ao seu patrão um a um para que rasurem os registros mudando-os para menor. Fez isso pensando que quando estivesse desempregado os devedores os receberiam em suas casas. Jesus ilustra assim aqueles que deixam de agradar a Deus, fazendo o que é certo, para agradar pessoas, fazendo o que é errado. A ironia é obvia: não se esqueçam que os amigos das riquezas da injustiça não podem conceder vida eterna, eles não nos receberão nos tabernáculos eternos (vs.9);

d) Ser sal e luz – relacionamentos com pessoas que não servem a Deus servem primordialmente para iluminar e salgar as vidas dessas com o Evangelho (Mateus 5.13-16). Josafá fora chamado para influenciar Acabe, e quem sabe salvá-lo. Ele acabou sendo influenciado e quase se perdeu. A sua aliança de paz, o seu enlace com Acabe se transformou em laço.

Como igreja somos chamados a viver em paz uns com os outros, em relacionamentos sadios, a enfrentar e a solucionar biblicamente os conflitos, a ministrar reconciliação. E, contudo, nem toda a reconciliação, nem toda a paz interpessoal é desejável, é possível, e se encaixa nos propósitos divinos. Então “se for possível, e quanto depender de nós, tenhamos paz com todas as pessoas” (Romanos 12.18). Que contudo tal paz com os homens não sacrifique a nossa paz com Deus.

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