Duas tragédias e a imbecilização das redes sociais
por Renan Alves da Cruz
Duas tragédias recentes revelaram o quanto as redes sociais se tornaram um imbecilizado território hostil.
O rompimento das barragens da empresa Samarco permitiram que um literal mar de lama devastasse a cidade de Mariana, num desastre de proporções épicas.
Dias depois, terroristas tocaram o terror em Paris numa ação multifacetada e simultânea, matando 130 pessoas.
Revelando a insanidade que domina a Era atual, as pessoas começaram a brigar nas redes sociais, sobre qual seria o evento prioritário a merecer piedade!
Houve divisões, subdivisões e excrescências.
Apareceu quem dissesse que colocar a foto da França no perfil era o cúmulo da hipocrisia. Que o brasileiro é sempre este tolo manipulável que não se manifesta sobre a tragédia mineira, mas quer ser engajadinho e solidário à França.
Houve quem dissesse que o Brasil é um país que não funciona por culpa dos que postaram condolência aos franceses, nas redes sociais. Segundo o argumento, um país não teria como dar certo com as pessoas ficando tristes com o que acontecia lá na França, com tanta coisa dando errado aqui.
Ainda teve quem dissesse que ninguém punha bandeiras africanas nos perfis, mesmo que lá aconteçam tragédias todos os dias, mas todo mundo só queria lamentar a tragediazinha europeia elitista .
E a pior, em minha opinião: um viral que correu nas redes sociais, que dizia que quando a boate Kiss pegou fogo, nenhum francês colocou foto do Brasil no perfil.
E sim. Dentre os que espalharam muitas destas insanidades estavam evangélicos.
Chegamos ao ponto de brigar por concessão de solidariedade.
Chegamos ao limite de criar escalas de piedade.
Queria entender como o fato de alguém manifestar publicamente sua solidariedade aos franceses pode ser tão ofensivo. Desvelar como funciona a cabeça de quem acredita que quem se condoeu da tragédia com os franceses não lamenta o ocorrido em Mariana/MG, ou da situação da África.
Quando vi irmãos repreendendo uns aos outros pela solidariedade que sentiam, percebi o quanto a estrada em que caminhamos é sombria. Que nossa maturidade é fugaz, e ainda engatinhamos.
Estamos crescendo em número, mas inconsistentes.
Pensei que, passado algum tempo, as pessoas refletiriam, que entenderiam que não há mal em ser solidário, que fazer uma homenagem facebookiana a determinadas vítimas, não significa desprezar as outras.
Que, pelo motivo que seja, é bom que demonstremos que ainda temos capacidade de nos importar com a dor dos outros.
Mas não adiantou. O atentado francês completou uma semana e as pessoas ainda estão insistindo no fla-flu, elegendo tragédias preferidas e qualificando hipocrisias.
Este colunista lamenta profundamente a tragédia que se abateu sobre a cidade de Mariana, e espera que a Samarco seja duramente responsabilizada.
Mas convém lembrar. A ruptura das barragens não foi proposital. Foi um acidente. Não deixa de ser um crime, que precisa ser punido com rigor, mas foi um crime culposo. Não havia na empresa intenção deliberada de matar.
Os atentados à França foram planejados e propositais. Crimes dolosos. Uma ameaça a toda a sociedade ocidental. Um aviso de que os extremistas tentarão impor sua vontade à força.
Tal recado, gerou um alarma global. A proporção, portanto, logicamente acabou sendo maior.
Não sei se você, leitor, acabou tomando partido nessa guerra ilógica, mas, de qualquer forma, fica a todos nós o aprendizado:
Ninguém tem elementos para julgar a piedade dos outros, e nem é cristão questionar a solidariedade que o outro sente.
O cristão deve se compadecer de todos os que sofrem, e orar por todos os que necessitam.
Chamar alguém de hipócrita por ficar triste pela França, mas não por Mariana, ou pela Africa, ou pelo que quer que seja, é em si, uma hipocrisia bem mais latente.
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e não refletem, necessariamente, a opinião do Gospel Prime.
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fonte: https://artigos.gospelprime.com.br/duas-tragedias-e-imbecilizacao-das-redes-sociais/
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