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sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Diaconato (Artigo Estudo)

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O presente texto trata-se de um breve esboço sobre as fundamentações bíblicas para o exercício (ministério, serviço) do diaconato na igreja.
1 - A instituição dos Diáconos
Apesar das divergências quanto ao fato de Atos 6 tratar da origem do diaconato, por exemplo, Stott[1] afirma categoricamente, seguindo Kelly[2]: “[...] mesmo que Atos 6 não seja a origem histórica do diaconato”, seguiremos Arrington, que comenta: “Lucas não usa a palavra ‘diácono’ (gr. diakonos) para descrever os sete homens, mas as palavras para “servir” e “diáconos” derivam da mesma raiz grega. 'Diáconos' são mencionados em Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8-13. Assim, é apropriado usar este título para os sete homens, sobretudo à luz do trabalho feito pelos diáconos em tempos recentes (que incluía a manipulação de finanças, o cuidado pelos necessitados e outros assuntos ministeriais práticos).”[3]Strong[4], Berkhof[5] e Thiessen[6] acreditam na possibilidade de Atos 6 tratar da instituição do diaconato. Williams, comenta que: “Segundo a tradição, a nomeação desses sete marcou o início desta ordem de oficiais (veja Irineu, Against Heresis [Contra Heresias], 1.26; 3.12; 4.15; Cipriano, Epistles [Epístolas], 3.3); Eusébio, Ecclesiastical History [História Eclesiástica], 6.43, mas o Novo Testamento dá ínfimo apoio à tradição.”[7] Vamos ao texto bíblico:
1 Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. 2 E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. 3 Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. 4 Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. 5 E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; 6 e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. (At 6.1-6, ARC)
1 Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. 2 Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. 3 Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; 4 e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. 5 O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6 Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. (At 6.1-6, ARA)
- Boa Reputação (gr. martyrouménous): boa fama, alguém de quem se fala bem, louvado, recomendável (esposa, filhos, vizinhos, patrão, igreja, pastor, etc.)
 - Cheios do Espírito (gr. plêreis pneúmatos): repletos, plenos do Espírito (c/ Ef 5.18). O termo “Santo” não aparece nas edições críticas da Vulgata e no N.T. Grego (27ª ed. Nestle-Aland). Pode estar implícito aqui o Batismo com o Espírito Santo (At 2.1-4), a manifestação dos dons do Espírito (1 Co 12-14) e o fruto do Espírito (Gl 5.22-25).
- De Sabedoria (gr.sophías): habilidade, tato, bom senso, juízo sensato, experiência nas questões da vida (Tg 1.5-7).
- Negócio (gr. chréias): trabalho, serviço, tarefa necessária. O termo “importante” foi traduzido na versão ARC para dar ênfase ao serviço.
2 – As Qualificações para o Diaconato nas Epístolas de Paulo
8 Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância, 9 guardando o mistério da fé em uma pura consciência. 10 E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. (1 Tm 3.8-10, ARC)
12 Os diáconos sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas próprias casas. 13 Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus. (1 Tm 3.12-13, ARC)
a) Honestos (gr. semnous): respeitável, honorável, digno. Envolve condição interior e postura exterior.[8]
b) Não de língua dobre (gr. mê dilogous): sem palavra, não de duas palavras, que tenha uma só palavra. Que não muda de opinião por conveniência.[9]
c) Não dados (gr. proséchontas, inclinados) a muito vinho: sobriedade.
d) Não cobiçosos de torpe ganância (gr. aischpokepdeís): Uma advertência em relação às tentações que poderiam ficar expostos na administração das esmolas, à assistência aos pobres e às finanças da congregação em geral.[10]Paganelli comenta que: “A advertência de Paulo não proíbe diáconos terem riquezas [...]. O problema reside no modo como tal riqueza é adquirida [...]".[11]
e) Guardando o mistério da fé (gr. mystêrion tês písteos): devem ter convicções ortodoxas, pois “mistério” representa a soma total de todas as verdades reveladas da fé.[12]
f) Provados (gr. dokimazésthosan): Experimentados. Apenas depois de uma triagem (exame) cuidadosa a respeito do seu caráter, da sua conduta, e da sua adequabilidade, se mostrarem irrepreensíveis (gr. anégkletoi, inculpáveis, não acusáveis), devem ter licença para exercer o diaconato.[13] Andrade, apropriadamente adverte: “[...] muitos pastores, não sabendo como provar, ou experimentar, os seus aspirantes ao ministério, acabam por confundir as legítimas e bíblicas provações com caprichos acintosamente humanos.”[14]
g) Maridos de uma mulher e governem (gr. proistámenoi, liderem, dirijam, cuidem) bem seus filhos e suas próprias casas: Stott, em seu comentário acerca de 1 Tm 3. 2, cita cinco possibilidades de interpretação quanto a “maridos de uma mulher”: (1) Os que nunca se casaram; (2) Os polígamos; (3) Os que se divorciaram, e casaram-se de novo; (4) Os que tendo enviuvado, casaram-se novamente; (5) Os que cometem o pecado da infidelidade no casamento. Não existe, nem mesmo na perspectiva intradenominacional, unanimidade acerca da questão. Quanto a questão de governo ou liderança, aquele que não é bom administrador de sua própria casa, certamente reproduzirá os mesmos erros no trato com a congregação (igreja local).

Conclusão
No que resultará o bom desempenho do diácono em seu serviço? O texto de 1 Tm 3.13 é claro e enfático: “Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.”
Em primeiro lugar, o diácono que bem servir alcançará para si uma boa posição. O termo grego traduzido por “posição” é bathmón, e pode significar “degrau”, “grau”, “reputação”. A versão de Almeida Revista e Atualizada traduziu por “preeminência”. 
Kelly entende o significado de “boa posição” como: “[...] garantem que seu cargo, apesar do seu título modesto e da sua aparência de subordinação, seja um de influência e respeito na comunidade em geral.”[15]Sua ênfase está na reputação. Ele ainda afirma: “Uma exegese que se aceita de modo generalizado, portanto, refere a palavra aqui a um passo no ministério; Paulo está prometendo aos diáconos que, se servirem lealmente, podem esperar que serão promovidos para a posição de superintendentes. Embora este seja o significado da palavra em escritores e liturgias posteriores, parece fora do contexto aqui, e, de qualquer maneira, é improvável que qualquer coisa como uma escada precisamente ordenada de promoção eclesiástica estivesse em vigor no século I, ou até mesmo no começo do século II.”[16] Stott entende a ideia de “carreira” ou “promoção” como anacrônica.[17] Arrington, não descarta tal interpretação.[18]
Em segundo lugar, o diácono que bem servir alcançará muita confiança na fé. O termo grego para “confiança” é parresían, que pode ser traduzido por “liberdade de falar”, “intrepidez”, “ousadia”.[19] Tal postura pode ser exercida diante dos homens, na proclamação do evangelho, e diante de Deus, em se aproximar dele.[20]

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA (Além da citada nas notas de rodapé)
Bíblia de Estudo Almeida. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.
Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico-Grego. Texto Bíblico Almeida Revista e Corrigida, 4ª ed., 2009 – Sociedade Bíblica do Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Revista e Corrigida. Edição de 1995. Flórida-EUA: CPAD/Life Publishers, 1995.
Bíblia Sacra Vulgata. Germany: Deutsche Bibbelgesellschaft, 1994.
GERMANO, Altair. Uma igreja com saúde. São Paulo: Arte Editorial, 2011.
HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Heinrich Von. Nova chave linguística do Novo Testamento Grego: Mateus-Apocalipse. São Paulo: Hagnos, 2009.
Novo Testamento interlinear grego-português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
O Novo Testamento grego: com introdução em português e dicionário grego-português. 4ª ed. Revisada. Barueri, SP: Deustsche Bibelgesellschaft/Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento. Análise e avaliação do aparato crítico de “O Novo Testamento Grego”. Tradução e adaptação de Vilson Scholz. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testameto Grego.Tradução de Gordon Chown e Júlio Paulo T. Zabatiero. São Paulo: Vida Nova, 1995.

[1] STOTT, John. A mensagem de I Timóteo e Tito. São Paulo. ABU, 2004, p. 99.
[2] KELLY, J. N. I e II Timóteo e Tito: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 82.
[3] ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico Pentecostal : Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 657.
[4] STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 679, v. II.
[5] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 539.
[6] THIESSEN, Henry Clarence. Palestras Introdutórias à Teologia Sistemática. São Paulo: IBRB, 1987, p. 300.
[7] WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.
[8] KELLY, ibid., p. 83.
[9] STOTT, ibid., p. 100.
[10] KELLY, ibid.
[11] PAGANELLI, Magno. O livro dos diáconos: entenda melhor as atribuições do ofício e o perfil deste obreiro. 5ª ed. São Paulo: Arte Editorial, 2010, p. 66.
[12] STOTT, ibid.
[13] KELLY, ibid., p. 84.
[14] ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Manual do diácono. 4ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 62.
[15] KELLY, ibid., p. 85-86.
[16] Ibid., p. 86.
[17] STOTT, ibid., p. 101.
[18] ARRINGTON, ibid.,p. 1465.
[19] KELLY, ibid., e STOTT, ibid.
[20] Ibid.


Pr. Altair Germano
Teólogo, pedagogo, escritor, Relator do Conselho de Doutrina da União de Ministros das Assembleias de Deus no Nordeste (UMADENE), Coordenador Pedagógico e Professor da Faculdade Teológica da Assembleia de Deus em Abreu e Lima-PE.
Pr. Altair Germano
 FONTE: http://www.portalfiel.com.br/artigo/124-o-diaconato.html

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